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WRI Brasil

3 caminhos para tornar as cidades mais seguras e acolhedoras para as crianças a partir dos entornos escolares


É no trajeto para a escola que muitas crianças têm suas primeiras experiências com o espaço urbano. Por isso, os entornos escolares são locais estratégicos: melhorar a infraestrutura nessas áreas é investir na infância e semear a transformação desejada para toda a cidade.


Ao se deslocarem a pé ou de bicicleta, as crianças se exercitam, interagem com o ambiente e desenvolvem habilidades de segurança no trânsito e cidadania na prática. Há muitas razões para se oferecer condições seguras para que os pequenos circulem e ocupem a cidade. Mas, infelizmente, essa não é a norma.


As cidades brasileiras são ambientes hostis para as crianças, que são um dos grupos mais vulneráveis no trânsito. Problemas comuns como a falta de calçadas adequadas, sinalização insuficiente e veículos em alta velocidade prejudicam a todos, mas são particularmente perigosos para os pequenos. Somente em 2021, 11.172 crianças foram internadas no Brasil devido a sinistros de trânsito. Globalmente, esses sinistros são a principal causa de morte entre pessoas de 5 a 19 anos.


Confira a seguir alguns caminhos essenciais para criar cidades mais seguras e acolhedoras para as crianças, começando pelo entorno escolar.


Redesenho da infraestrutura viária em entornos escolares


Transformar os entornos escolares em áreas de trânsito calmo, com limites de velocidade adequados, sinalização eficiente e medidas de moderação de tráfego, reduz o risco de sinistros e encoraja crianças e suas famílias a ocuparem esses espaços com confiança. Essas intervenções não só aumentam a segurança, mas também criam áreas de convivência e bem-estar.


Campinas iniciou, em 2019, a implementação de intervenções de urbanismo tático no entorno da Escola de Ensino Fundamental Vicente Rao. Foram implantadas extensões de calçadas, reduzidos os raios de giro em esquinas e instalados balizadores e floreiras. A aprovação foi de 91% logo na primeira fase. Esse modelo inspirou políticas como Primeira Infância Campineira e Caminhos do Brincar, ampliando o impacto para toda a cid


Políticas para deslocamentos seguros e espaços de qualidade


Incorporar a pauta da infância nas políticas públicas garante que essas ações sejam contínuas e eficazes. Desde 2008, o programa A Caminho da Escola beneficia centenas de escolas públicas no Rio de Janeiro. Em nova fase, o A Caminho da Escola 2.0 já realizou intervenções como ajustes de sinalização e extensões de calçadas no entorno de 57 escolas, e ações educativas em 280 instituições, abrangendo mais de 30 bairros.


Mais de 2 mil alunos e professores participaram do planejamento das intervenções. A abordagem integrada teve como resultado a mudança de comportamento em favor da mobilidade sustentável. Em escolas contempladas pelo programa, 64% dos alunos disseram que priorizariam modos sustentáveis de deslocamento, contra 47% nas escolas não beneficiadas.


As informações foram sistematizadas em um estudo realizado por CET-Rio, ITDP Brasil e WRI Brasil, com o apoio do Banco Mundial. As organizações também lançaram um guia (saiba mais no box) que consolida recomendações sobre intervenções em entornos escolares a partir da experiência carioca.


Pesquisa e participação social fortalecem o processo


Mapear desafios locais e ouvir a população são passos essenciais para criar soluções eficazes. Em São Paulo, o programa Territórios Educadores realiza intervenções em áreas vulneráveis para qualificar espaços públicos e acessos escolares. Em 2021, o WRI Brasil apoiou o programa na qualificação de duas praças na zona leste da capital paulista, em um processo participativo que buscou responder aos desafios e anseios da comunidade.


No Jardim Lapena, a aplicação da metodologia Quali-Urb Infância mostrou que 79,3% dos cuidadores levavam as crianças a pé até a escola, mas 82,6% apontaram a falta de atrativos nas calçadas. Esse diagnóstico contribuiu para a criação do Parque dos Sonhos, uma iniciativa batizada pelas próprias crianças e cocriada com a comunidade.


A iniciativa foi celebrada por quem brinca, mas também por quem cuida – como Jade Ferreira, mãe e moradora do Jardim Lapena: "A gente fica muito dentro de casa, com os filhos, em celular e computador, e às vezes você fala, 'vou ter que ir lá no parque, longe'. [Agora] muitas pessoas que moram aqui vão andar 10 minutos e brincar aqui. Além dos filhos, os pais, que também precisam descansar, arejar um pouco a cabeça", disse.


Construir juntos a cidade que queremos


Promover espaços públicos seguros para crianças significa permitir que elas brinquem, aprendam e se desenvolvam com liberdade. As conversas nas calçadas e as brincadeiras nos parques são tão valiosas quanto qualquer indicador formal. No entanto, monitorar os impactos das intervenções é essencial para aprimorar as políticas e inspirar outras cidades a seguirem o mesmo caminho.


Investir nas crianças é investir em cidades mais justas, inclusivas e humanas. É construir, juntos, a cidade que queremos.


Por Larissa Oliveira, Laura Rössler, Fernando Corrêa, Bruno Batista e Paula Manoela dos Santos

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