Segurança, acesso a serviços e gestão profissional são algumas das características vendidas como vantajosas para quem decidir morar em condomínios fechados. Mas isso é para poucos, alerta Marcelo Mahtuk, fundador da empresa Manager Gestão Condominial.
O tema foi pauta no painel "Futuro urbano: como serão as cidades do amanhã?", mediado por Talita Zampieri, parte da programação do Superlógica Next 2024. O evento, que reuniu administradoras de condomínios, síndicos profissionais e imobiliárias para palestras e mentorias, foi realizado no início da semana em São Paulo. A coluna Pensar a cidade acompanhou o evento a convite da organização.
Mahtuk aponta que a resposta ao tema do painel está na convivência - entre os moradores de um mesmo edifício, com o prédio ao lado, com o espaço público, com o comércio local. Felipe Cunha, diretor de Incorporação e Inovação do Grupo Cyrela, complementa que ainda existe resistência à integração, reflexo de medos relacionados à segurança. Para quebrar essa resistência, aponta a tecnologia como aliada.
No entanto, para os dois gestores, dá pra ir um pouco mais além. O exemplo de Mahtuk é de um condomínio que tem um auditório que, com o tempo, ficou sem uso - até as reuniões de condomínio já são feitas no formato virtual. Para não deixar o espaço sem uso, os moradores optaram por realizar uma "gentileza urbana": emprestar o espaço para a comunidade do entorno, e, assim, passou a ser usado por escolas para ensaiar peças de teatro, por exemplo. "É um processo de segurança", sustenta.
Para o arquiteto Adam Kurdahl, da Spol Architects - dinamarquês que escolheu o Brasil para viver -, a mobilidade é a principal necessidade de adaptação das cidades para o futuro - ou mesmo para o presente. Para ele, a cidade de 15 minutos pode ser esse caminho. "Posso ir mais longe, mas (em 15 minutos a pé) tenho o que preciso. Pode ser no centro de bairro, mas precisa ser para todos", sustenta.
Nesse contexto da mobilidade, Mahtuk reforça que "a solução não são os condomínios grandes". E exemplifica que uma pessoa "a pé, conhece seu bairro; de bicicleta, conhece outro bairro; de carro, não conhece nada. Assim, se os condomínios são fechados em si, ao mesmo tempo que as cidades são desenhadas para os automóveis, "quem vai consumir no comércio local?"
No entanto, para a ideia de uma cidade "caminhável" e que tenha recursos ao acesso de todos, é preciso pensar no todo, defende Cunha. Para ele, a convivência deve se dar também entre diferentes classes sociais, o que demanda incentivo do governo, como o dado ao programa habitacional Minha casa, Minha Vida, mas voltado para regiões centrais e mais estruturadas das cidades, principalmente as maiores.
Por: Bruna Suptitz