Driblando a correria da vida e as compras online, livrarias físicas seguem resistindo como um espaço de respiro e refúgio, onde olhares atentos passeiam entre as prateleiras
Neste artigo:
O surgimento das pequenas livrarias
Uma livraria com jeitinho de casa de avó
Em São Paulo, acontece um 'boom' de livrarias de rua
Pela união dos livreiros, as livrarias se fortalecem
Para além das compras online: livrarias são destinos de passeios
Quantas histórias guardam os corredores das livrarias físicas? Enquanto os olhos passeiam por vezes perdidos entre títulos, sem nada buscar, há uma pausa possível aos pensamentos. Tempo tão raro e tão caro. Quase um refúgio em meio ao caos das ideias e barulhos que persistem do lado de fora. Mas não ali.
Uma livraria traz calma, tranquilidade e também movimento fluido. É espaço de expansão, de viagens, de novos olhares e visões de mundo.
É assim, carregado de versos, prosas e histórias, que o mercado livreiro sobrevive a tantas “mortes anunciadas”: primeiro, pela chegada dos e-books e do comércio eletrônico; depois, impactado pelo isolamento social da Covid-19.
O surgimento das pequenas livrarias
Antes mesmo do impacto da pandemia, grandes redes de livrarias fecharam lojas e iniciaram processos dolorosos de recuperação judicial.
Mas, na contramão, pequenas livrarias florescem do asfalto na cidade, enquanto outras redes têm se expandido. Em outubro de 2021, quando os adultos começaram a se vacinar e a pandemia deu um pequeno respiro, duas amigas professoras concretizaram o desejo de abrir a sua peque na livraria.
A Miúda, em Perdizes, São Paulo, surgiu para ser um espaço voltado para a infância e a cultura, atravessado por narrativas literárias e artísticas.
“Ao longo do projeto, percebemos que o que queríamos era, na verdade, uma livraria. Ela cumpre esse papel de ser referência cultural. Importante para a cidade e para a formação do leitor”, diz Tereza Grimaldi, pedagoga, arte-educadora e uma das fundadoras da Miúda.
Uma livraria com jeitinho de casa de avó
A livraria funciona em uma antiga casinha. Ali, a narrativa afetiva é de casa da avó. Um café gostoso, um cardápio pensado nas crianças, contação de histórias, oficinas…
E os livros? Claro, são também uma atração: todas as prateleiras ficam voltadas a quem entra, com as capas ocupando o papel de grandes abre-alas das histórias contadas ali.
“Acho que o grande diferencial é conseguirmos ser muito próximas das pessoas, conhecemos parte de nossos clientes pelo nome, e o espaço proporciona longos papos. Também conhecemos muito bem o nosso acervo. Não temos tudo. Há uma curadoria fina feita com muito cuidado para trazer coisas que façam sentido para nós”, diz Julia Souto Guimarães Araújo, pedagoga especialista em literatura e sócia da Miúda.
Em São Paulo, acontece um ‘boom’ de livrarias de rua
A paixão pelos livros tem impulsionado a cena livreira de São Paulo, e garantido aos apaixonados por literatura espaços de respiros e encontros.
Só na cidade de São Paulo, cerca de dez novas livrarias abriram as portas nos últimos meses, consolidando a sede por curadoria, por proximidade.
E a maior parte delas não buscou endereços em shoppings. Foi a rua que virou palco das andanças entre prateleiras encantadas.
Nas pequenas livrarias, vale destacar, as coleções são modestas, pensadas título a título, um trabalho de proximidade movido pelo ímpeto de transformar – os seus arredores e os cotidianos de gente como nós, queridos e caros leitores.
Como bons refúgios, elas abrem seus espaços para cursos, oficinas, exposições, e dão maior ênfase aos lançamentos como grandes oportunidades de estar junto e estar perto.
A ideia é ser mesmo uma extensão da sala de casa. Não aquela sala da qual tantas vezes – principalmente após o isolamento -os livros nos ajudavam a escapar.
Mas das salas gostosas onde se quer ficar um pouco mais, com uma estante sempre pronta para passeios, e cheias de histórias para contar.
Por: Nathália Duarte
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