Companhia abandonou formato de marketplace da Manipulaê e montou laboratório próprio
A Raia Drogasil resolveu pivotar a operação da Manipulaê, marketplace para laboratórios de remédios manipulados comprado no fim de 2019. Em vez de uma plataforma de vendas de terceiros, a companhia virou um ecommerce do próprio laboratório, recém-construído.
A empresa percebeu que o segmento é mais concentrado do que inicialmente vislumbrava, o que limitava o potencial de escalar uma operação de marketplace. “Queríamos conectar todos, mas aí vimos que são três ou quatro que fazem a diferença, então por que ter outro fazendo isso para mim se eu mesmo posso fazer e ter o controle da qualidade?”, diz Bruno Pipponzi, VP de negócios de saúde da Raia Drogasil.
O laboratório da Manipulaê foi inaugurado no mês passado em Campo Belo, na zona sul de São Paulo, e por enquanto só atende a região metropolitana, com entregas a partir de receitas enviadas pelo site. A ideia é crescer para outras regiões, com a construção de mais laboratórios, mas a Raia Drogasil não descarta promover a expansão geográfica com um modelo híbrido, com parceiros locais.
A companhia não abre projeções para o negócio, que ainda está engatinhando no novo modelo, mas diz que, pelo menos no início, pretende ter uma estratégia focada em preço. Em anúncio nas buscas do Google, a Manipulaê chega a prometer orçamentos até 30% mais baratos.
A companhia também quer aproveitar o público que já está exposto a todas as investidas para ter um baixo custo de marketing. Ao todo, o ecossistema da RD Ventures soma 48 milhões de clientes.
Comprada por meio de debêntures conversíveis com opção de controle ou aquisição total, a Manipulaê ainda não é 100% da Raia Drogasil. Uma parte ainda pertence a um dos fundadores, Thiago Colosio, que segue no dia a dia da operação. O outro fundador, Rafael Diego de Angelo, saiu em uma rodada no fim de 2022. Em seus M&As, a RD costuma manter os empreendedores nos negócios por um tempo. À medida em que a tese vai se provando, a companhia vai ampliando a participação até a totalidade.
O negócio de remédios manipulados faz parte de uma cesta de investimentos que a RD tem feito em healthtechs, em um esforço para diversificar a empresa e transformá-la no que a diretoria tem chamado de plataforma de saúde. “Cada vez mais estamos avançando para deixar de ser uma empresa que vende apenas caixinhas, mas que também oferece serviços, participando da jornada de saúde do cliente”, afirma Flavio Correia, RI da companhia.
Segundo ele, os investidores estrangeiros da RD têm ajudado com cases do exterior. “Dois terços das nossas ações estão nas mãos de gringos, que investem na gente e em outras farmácias em outros cantos do mundo. Eles nos contam o que elas fazem de bom, e todas querem sair desse modelo tradicional”, diz Correia. “Ao oferecer serviços, não queremos só disponibilizar a vacina na loja, por exemplo, mas também trazer soluções que ajudem a prevenir doenças, que contribuam com a qualidade do sono e da alimentação do cliente.”
A RD já tem 11 investidas, sendo 10 no portfólio do corporate venture capital, a RD Ventures. São nomes como a Labi, de exames médicos, a Amplimed, de tecnologia para gestão de clínicas e consultórios, e a Vitat, uma plataforma online de bem estar que tem, entre seus serviços, a possibilidade de agendar consultas com nutricionistas.
A única que não faz parte da RD Ventures é a 4Bio, uma distribuidora de remédios especiais que atua na intermediação entre pacientes que precisam de tratamentos específicos, como os oncológicos, e as fabricantes. O negócio, que foi comprado em 2015 e à época faturava R$ 126 milhões, agora já soma R$ 2 bilhões de receita por ano. A Raia Drogasil também não tem 100% deste negócio, mas deve atingir a totalidade em um prazo de 12 meses.
Por: André Ítalo Rocha