Negócios com o formato de mini varejo, por exemplo, garantem a oportunidade de fidelizar o cliente sem que ele precise 'peregrinar' por vários estabelecimentos
Transformar o visual de cães e gatos tornou-se uma atividade cada vez mais sofisticada no mercado pet. Em Minas Gerais, salões especializados em embelezamento e higiene de animais domésticos oferecem serviços de cortes estilizados, hidratação dos pelos, cauterização, unhas decoradas e até tatuagens caninas, proporcionando uma experiência diferenciada para os bichinhos e seus tutores.
Reiterando o crescimento desse universo pet no mercado, o número de salões especializados disparou 146% na última década no Estado, segundo dados coletados pelo Sebrae Minas. Enquanto em 2014 eram 437 estabelecimentos, hoje, já são 1.075, resultando em 638 empresas ativas.
Nacionalmente, o cenário é igualmente promissor. Entre 2014 e 2023, a abertura de salões para pets no Brasil cresceu 148%, passando de 4.372 novos empreendimentos em 2014 para 10.587 em 2023.
Em outra apuração do Sebrae Minas, entre os meses de janeiro e maio deste ano, foram registradas 526 novas aberturas de estabelecimentos, mas 318 fechamentos no mesmo período no Estado.
“Quando observamos os números de fechamento dessas empresas, como os registrados entre janeiro e maio deste ano, parece que mais estabelecimentos estão fechando do que abrindo. No entanto, não é bem assim”, diz a gerente da unidade de Indústria, Comércio e Serviço do Sebrae Minas, Márcia Valéria Cota Machado.
Segundo ela, o mercado de salões para pets continua a crescer, embora esteja passando por um processo de estagnação. “Atualmente, ao abrir uma loja de produtos para pets, é comum que esses estabelecimentos ofereçam uma gama de serviços, incluindo alimentação, tosa, banho e, em alguns casos, até serviços veterinários. Como resultado, salões especializados podem acabar fechando devido à concorrência que oferece um portfólio mais amplo de produtos e serviços”, explica Márcia Machado.
Diversificação de produtos e serviços é boa para o cliente
Para a especialista do Sebrae Minas, o mercado está se reposicionando, e as empresas estão se adaptando às novas demandas.
“O mercado pet é mais conveniente para os estabelecimentos que diversificam os produtos, como um mini varejo e tudo em um único local. Para o cliente isso é bom, ao contrário de situações em ele precisa levar seu pet ao veterinário, em seguida, para banho e tosa, e ainda ter que passar em outro local para comprar alimentação. Há também opções no mercado como o spa para pets e hotéis, que acabam se misturando com o conceito de pet care“, pontua.
Segundo ela, o mercado pet é um setor dinâmico e está em constante transformação, refletindo a crescente demanda e a adaptação dos modelos de negócios às necessidades e estilo de vida dos consumidores.
Microempreendedores dominam o mercado pet
Dentro do cenário de aberturas de salões para animais domésticos no Estado, entre janeiro e maio deste ano, apenas três são empresas de pequeno porte (EPP), enquanto 47 registros constam como microempresas (ME) no site da Receita Federal. Contudo, grande parte desse mercado é formado por microempreendedores individuais (MEI), totalizando 475 negócios abertos.
“Esse mercado requer uma certa sofisticação e conhecimento, mas como ele tem baixa barreira de entrada, acaba favorecendo que um maior número de empresas entrem no setor. Por isso, temos um maior numero de MEIs no varejo pet, tanto no Brasil quanto em Minas”, observa Márcia Machado.
A especialista do Sebrae Minas avalia que essa menor barreira que existe contribui com a entrada crescente de empreendedores, inclusive, na informalidade.
“O que temos são pessoas que estão na prestação de comércio e serviço como o ‘hotelzinho’, o serviço de banho e tosa, a oferta de passeios. Já o segmento de pet vet já é um mercado com maior barreira de entrada, pois requer um profissional veterinário. Então, as pessoas que saem da faculdade de medicina veterinária querem abrir o próprio negocio, se tornando uma micro ou pequena empresa. Ou mesmo aqueles que já foram MEI em alguma fase da vida e, agora, desejam remodelar o negócio”, aponta.
Paixão por pets movimenta negócios no Estado
Desde criança, a empreendedora Agatha Kerolaine Nascimento Dias sempre gostou de animais, principalmente, cachorros. Ela ganhou o seu primeiro cãozinho quando tinha 7 anos e deu a ele o nome de Petruchio, em homenagem ao personagem interpretado por Eduardo Moscovis na novela “O Cravo e a Rosa”, da TV Globo.
“Ao longo da vida, sempre tive animais e, por ter sido uma criança muito tímida, sempre fiz deles meus amigos. Quando completei 18 anos, queria trabalhar com algo que me permitisse estar mais próxima dos animais”, diz.
Foi quando estreou na área como freelancer em um “banho e tosa”. “Depois disso, fiz um curso disso e consegui o meu primeiro emprego em um pet shop. Com o passar do tempo, decidi abrir um pequeno ‘banho e tosa’ na minha casa no Alto Vera Cruz, região Leste de BH. Foi tudo montado com pouco dinheiro, mas com muita coragem”, lembra a jovem.
Atualmente, Agatha Dias tem o Meu Pet Salon, fundado em 2022 no bairro São Pedro, na região Centro-Sul da capital mineira, a poucos minutos do Shopping Pátio Savassi. “O espaço possui os serviços de estética animal, consultório veterinário, creche e day care para cães, hotelzinho e pet boutique”, elenca.
Segundo ela, os investimentos na área foram importantes para que o negócio se tornasse referência no mercado em Belo Horizonte. “Considero um salto muito grande na minha vida profissional e pessoal. São muitos novos desafios que enfrento diariamente, mas no fim tudo vale a pena pois trabalho com o que sempre sonhei: animais”, diz.
Pet Sitter é outra possibilidade na área
Quem também viu no mercado pet um futuro promissor foi a pet sitter Miriene Fernanda Lorenzi. Desde 2014, ela tem investido na oportunidade de cuidar de animais domésticos, como cães e papagaios. Contudo, optou por se especializar somente no atendimento domiciliar como babá de gatos.
“Sempre fui apaixonada por animais e fazia trabalho voluntário em alguns abrigos. Via que muitas pessoas não tinham com quem deixar seus animais quando viajavam, era uma necessidade do mercado, então percebi que seria um bom ramo de trabalho. Me especializei no cuidado dos gatos, que são os que mais se beneficiam do meu trabalho”, diz
A maioria de seus clientes são de longa data. Contudo, novos clientes costumam surgir por meio da indicação de fregueses ou pelas redes sociais.
Setor em Minas só perde para São Paulo e Rio de Janeiro
Ao todo, Minas Gerais conta com aproximadamente 24.522 lojas físicas, entre spa, salões, estúdios, pet shops, hotéis, restaurantes, cafeterias e clínicas veterinárias, sendo 12,6 mil MEIs, 11 mil microempresas e 824 empresas de pequeno porte.
Representando o terceiro maior mercado pet no País, perdendo apenas para São Paulo e Rio de Janeiro, esses estabelecimentos mineiros foram responsáveis por movimentar, pela primeira vez, um pouco mais de R$ 1 trilhão em 2023, se tornando um segmento em ascensão para o Produto Interno Bruto (PIB) mineiro. Os dados são Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de Minas Gerais (Fecomércio-MG).
Um dos fatores que têm fomentado esse cenário é o advento do e-commerce de pet shops. De acordo com a Fecomércio-MG, as vendas on-line já são realidade em 35% dos estabelecimentos em Minas Gerais, e 6,3% manifestaram a intenção de implementar esse sistema.
Dados a indústria brasileira de produtos para animais de estimação mostram que houve um faturamento 11,65% maior em 2023 na comparação com o ano anterior. A projeção atual tem como base o terceiro trimestre de 2023.
‘Pet Vet’ pode seguir em liderança em 2024
Segundo dados da Associação Brasileira da Indústria de Produtos para Animais de Estimação (Abinpet), o setor de produtos veterinários (pet vet) pode registrar um cenário ainda promissor neste ano, tendo em vista que esse nicho registrou um crescimento de 16% em faturamento ao longo de 2023.
Em seguida, o segmento de cuidados para pets, denominado pet care apresentou um aumento de 15%. Já o mercado de alimentos para animais de estimação, o pet food, cresceu 10,6%.
“Os tutores estão cada vez mais investindo em saúde, higiene e bem-estar para seus animais de estimação”, diz o presidente-executivo da Abinpet, José Edson Galvão de França.
Por: Dione AS