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Lojas Cem mantém postura de comércio raiz e cresce dois dígitos


Na contramão de caminhos indicados por dez entre dez especialistas, rede especializada em eletroeletrônicos e móveis aposta em lojas físicas e vendas à moda antiga, com carnês


O que dizer de uma rede de eletroeletrônicos que não vende pela internet, nunca fecha loja, só abre, não tem presidente e possui 70% da clientela parcelando a compra com uso de carnês.


Especialistas em varejo diriam, provavelmente, que essa rede tem uma postura ultrapassada e corre o risco de sumir com o avanço do e-commerce e de novos hábitos de consumo.


Produtos eletroeletrônicos, como fogões, geladeiras, televisores podem ser facilmente adquiridos pela internet, o que permite pesquisas rápidas de preços sem bater perna.


Como toda regra tem exceção, a exceção neste caso é a Lojas Cem.


Com esse perfil descrito acima, a rede, fundada em 1952 pela família Dalla Vecchia, exibe números de dar inveja aos varejistas.


Com faturamento estimado em R$ 7 bilhões para 2023, 14% maior do que o de 2022, a rede vive um período “espetacular”, de acordo com José Domingos Alves, diretor da rede.


“Não temos nada contra a internet, só que este mercado representa cerca de 10% das vendas do setor. Somos especialistas em loja física, com os melhores preços do mercado”, diz.


Varejistas, fornecedores, especialistas em varejo costumam perguntar para os Dalla Vecchia qual é a fórmula para ter sucesso com posicionamento que vai na contramão do mercado.


“O consumidor quer preço, prazo de pagamento, loja limpa, climatizada, bom atendimento, entrega rápida. O segredo é a simplicidade. É isso o que entregamos”, afirma.


A Lojas Cem, de acordo com ele, é especialista em um ramo que tem um grande mercado no Brasil e que vai demorar muito tempo para mudar.


“Conseguimos dar condição de compra para os clientes, o que as concorrentes não conseguem.”


A empresa foi vencedora no ano passado do prêmio “Estadão Empresas Mais”, na categoria Varejo, em razão do seu desempenho ao longo de 2022.


Com 306 lojas em quatro Estados - São Paulo, Paraná, Rio de Janeiro e Minas Gerais -, a rede possui cerca de 15 milhões de clientes cadastrados, dos quais 2,5 milhões estão ativos.


Todos os meses, uma parte deles vai até uma das lojas pagar o velho e bom carnê, que possibilita um parcelamento em até 15 vezes, com taxa de juros média de 2,75% ao mês.


Além de ser uma das menores taxas do mercado, afirma Domingos, o cliente não paga juros quando parcela a compra em até quatro vezes.


A inadimplência, que aumentou durante a pandemia, diz, reduziu e está estabilizada em um patamar considerado normal pela empresa.


Nos atrasos acima de 60 dias, ela representa entre 4,5% e 5% da carteira de financiamento.


O crescimento de dois dígitos em vendas tanto em 2023 como no ano anterior, diz Domingos, tem mais a ver com a “deficiência da concorrência” do que com condições macroeconômicas.


Neste ano, a Via, dona das marcas Casas Bahia e Ponto, anunciou o fechamento de 100 lojas com o objetivo de reduzir R$ 1 bilhão em estoques e poder financiar a compra dos clientes.


O encolhimento dessas duas redes e de outras que enfrentam problemas financeiros contribuiu para o crescimento da empresa.


“O país e as empresas crescem com investimentos, geração de emprego, não com ações paliativas do governo”, diz.


Com sede em Salto (SP), a Lojas Cem tem uma administração tocada por um colegiado - não existe presidente - formado por familiares e profissionais.


Notícias de que a Black Friday de 2023 não foi das melhores são contestadas pela Lojas Cem. “No nosso caso, as vendas foram fantásticas, 30% melhores do que as de 2022”, diz Domingos.


A expectativa para dezembro de 2023 é de um faturamento 20% maior do que o de igual período do ano anterior.


Dizer que quem não está na internet corre o risco de ficar pelo meio do caminho, diz Domingos, “é falácia”. “Quem diz isso não conhece o Brasil.”


Por: Fátima Fernandes

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