Expansão agressiva da rede de conveniência do Grupo Nós gera memes; trajetória no Brasil também é marcada por polêmica sobre impacto no comércio de bairro e falta de segurança
A loja de fachada vermelha e amarela é vista com tanta frequência em São Paulo que praticamente se tornou parte da paisagem da cidade. Diz a internet que o Oxxo não pode ver um imóvel vago que já quer ocupar. A expansão agressiva virou motivo de memes e é a principal característica da rede de proximidade, que completa quatro anos no Brasil agora em outubro, em uma trajetória que também passa por alguns temas controversos.
O Oxxo faz parte do Grupo Nós, uma joint venture entre a brasileira Raízen (RAIZ4) e a mexicana Femsa, conhecida por ser dona da maior engarrafadora de produtos da Coca-Cola no mundo. A marca foi criada no México no final da década de 1970 e, além de varejista, a empresa também atua por lá como correspondente bancário: os clientes podem pagar boletos nessas lojas, assim como os brasileiros fazem nas casas lotéricas.
“No México, os serviços financeiros são uma grande âncora para o Oxxo, pois atraem fluxo de pessoas e recursos para as lojas”, diz Eduardo Terra, presidente da Sociedade Brasileira de Varejo e Consumo (SBVC). “Aqui no Brasil, não faz sentido reproduzir esse modelo, então eles precisam encontrar uma alternativa para aumentar o fluxo, algo que ajude na equação financeira.”
Expansão em SP é prioridade
A Oxxo não divulga números recentes nem fala sobre suas estratégias, antecipou a assessoria do Grupo Nós ao ser procurada pelo InfoMoney. No entanto, a reportagem conseguiu algumas respostas por e-mail. “O foco é consolidar a maturação do negócio e da marca e seguir expandindo dentro do estado de São Paulo”, diz uma das respostas, referindo-se à intenção de expandir os negócios para outras regiões.
Atualmente, todas as mais de 500 lojas do Oxxo estão localizadas em território paulista. Além da capital, que concentra o maior número de unidades, a rede está presente em outras 17 cidades. Os memes da internet, no entanto, ajudam a marca a se tornar conhecida em outros estados. Para Rodrigo Catani, sócio-diretor da Gouvêa Consulting, isso deve auxiliar a empresa quando decidir expandir para fora do mercado onde opera atualmente. “Mesmo nos lugares onde não há lojas do Oxxo, existem pessoas curiosas em conhecê-las”, diz Catani.
Investimentos dispararam com abertura de lojas
Em termos de desempenho financeiro, os últimos números disponíveis são do ano fiscal de 2023, encerrado em março do ano passado. Durante esse período, o Grupo Nós, que também possui as lojas de conveniência Shell Select, registrou um prejuízo consolidado de R$ 165,7 milhões, cifra que também estava no vermelho no ano fiscal de 2022, com R$ 25,3 milhões.
Em três anos, a receita líquida do grupo variou de R$ 147,6 milhões a R$ 673,9 milhões, mas a empresa não revela o percentual de participação do Oxxo nessa cifra. Por outro lado, os investimentos mais que triplicaram nesse mesmo intervalo, alcançando R$ 188,8 milhões. O grupo deixou claro que o valor do capex estava principalmente relacionado à abertura de lojas do Oxxo e à expansão do centro de distribuição em Cajamar, na Grande São Paulo.
Os números foram divulgados em função da emissão de Certificados de Recebíveis Imobiliários (CRIs) do Grupo Nós, em agosto do ano passado. Ao final do ano fiscal de 2023, o Oxxo tinha apenas 314 lojas. A empresa não divulga o balanço financeiro atualizado e, ao InfoMoney, se limitou a afirmar que “os resultados financeiros da rede estão em linha com o business plan previsto e [a empresa] mantém sua estratégia de crescimento sustentável no país.”
Quebra de paradigma
Segundo Catani, o Oxxo conseguiu quebrar o paradigma de que lojas de conveniência precisam estar atreladas a postos de combustíveis, com o conceito de “lojinha de esquina que vende de tudo um pouco”. “Entraram com um posicionamento de preço mais barato do que as lojas de conveniência tradicionais, o que sempre foi um obstáculo para o crescimento dessas unidades”, afirma o especialista.
O ritmo intenso de abertura de lojas e a presença de um Oxxo em cada esquina é a forma que a rede encontrou para se tornar economicamente viável, explica Terra, da SBVC. “É preciso colocar muitas lojas em uma mesma região para acertar no modelo de abastecimento”, diz. As unidades operam com estoques pequenos, e o negócio só faz sentido se um mesmo caminhão abastecer várias delas — daí a importância de estarem bem próximas.
Os anti-Oxxo
O adensamento de lojas, no entanto, trouxe uma enxurrada de críticas à empresa. O empresário João Paulo Pacífico, CEO do Grupo Gaia, de investimentos de impacto, chamou a atenção para o “estrago econômico local” que esse tipo de rede pode causar. “Mercadinhos de bairro não têm o poder de escala dessas grandes redes, por isso podem ser engolidos”, disse em um vídeo postado nas redes sociais no ano passado.
Nas eleições municipais da capital paulista deste ano, o urbanista e vereador eleito pelo PT, Nabil Bonduki, incluiu “medidas anti-Oxxo” em suas promessas de campanha. “São Paulo viu nos últimos anos essa rede chamada Oxxo se proliferar como se fosse uma praga urbana”, afirmou em um de seus vídeos. “Precisamos criar restrições para que uma rede que vem de fora não se estabeleça de maneira tão generalizada na cidade, porque isso mata o pequeno comércio e leva recursos para fora”, disse.
“Não sei dizer exatamente se alguém fechou, mas com certeza o Oxxo ganhou mercado nas regiões onde adensou suas lojas”, diz Eduardo Terra. “Acho que existe mercado e caminhos para todos, mas, de fato, o Oxxo é um competidor que chegou para mudar o jogo, jogando de um jeito diferente”, afirma Rodrigo Catani.
Falta de segurança?
A expansão da rede também tem esbarrado no tema da segurança pública. Arrastões em lojas são pauta frequente em reportagens veiculadas na imprensa. No site Reclame Aqui e em outras redes sociais, é fácil encontrar relatos de consumidores que testemunharam assaltos à mão armada em unidades do Oxxo, e alguns afirmam que as lojas estão atraindo ladrões para bairros que, até então, eram considerados “seguros”. Seria esse o motivo pelo qual algumas unidades não estariam mais funcionando em regime de 24 horas, como se propunha inicialmente?
O Grupo Nós não respondeu às perguntas do InfoMoney relacionadas a esse tema, tampouco informou qual o percentual de lojas que ainda operam de forma ininterrupta.
Por: Mitchel Diniz