Rogério Barreira, presidente da Divisão Brasil da Arcos Dorados, fala sobre estratégia de expansão da empresa, que vai abrir 50 novas unidades neste ano.
O McDonald´s é conhecido por empregar, em suas lojas, jovens em seu primeiro emprego. Muitos trabalham na rede de lanchonetes por um período e depois seguem sua carreira profissional em outras empresas. Não foi o caso de Rogério Barreira, presidente da Divisão Brasil da Arcos Dorados, a maior franquia independente do McDonald´s do mundo com direitos exclusivos de possuir, operar e conceder franquias locais de restaurantes McDonald’s em 20 países e territórios da América Latina e Caribe.
Barreira entrou na empresa em 1984 e foi galgando posições. Comandou a operação em outros países e, desde 2022, dirige a operação brasileira, onde estão 1.150 das 2.350 lojas da região, entre restaurantes próprios e franqueados, que empregam 60 mil funcionários. A operação brasileira já é a maior da região e exemplo de sustentabilidade na gestão. E vai continuar crescendo. O plano da Arcos Dorados é abrir 50 novos restaurantes neste ano, especialmente na região Sudeste, em capitais como Rio e São Paulo, e continuar expandindo nos próximos. “Não posso falar o número, mas digo que nós vamos aproveitar todas as oportunidades de crescimento”, afirmou nesta entrevista à [EXP].
[EXP] – Como está o mercado brasileiro, qual é a estratégia para expansão nesse ano?
Rogério Barreira – De forma geral, as coisas estão indo bem. Um ano mais difícil, mas está indo bem, temos várias oportunidades. Não vamos alterar muito as nossas estratégias, vamos continuar crescendo. Vamos focar mais forte na estratégia digital, que foi acelerada durante a pandemia.
Qual é hoje a proporção de presencial e delivery?
Mais ou menos 20% da nossa venda é delivery. Era 9% antes da pandemia. Esse é um exemplo de transformação digital que não aconteceu só no food service, mas na nossa vida como um todo. Mas tecnologia por tecnologia não vale nada, o que vale é o que o cliente valoriza, o que é bom pra ele. Hoje o cliente quer diferentes canais, quer chegar num restaurante, fazer o pedido no totem, fazer o pedido no balcão, no smartphone e retirar, ou quer se sentar e pedir na mesa, ou está com pressa e quer passar pelo drive-thru. E se ele não quiser nada disso ele pede em casa.
O que o cliente espera é mais inovação, praticidade, comunidade, liberdade de fazer o pedido. O tíquete médio no totem é mais alto do que no balcão. Uma das razões é que ele se sente à vontade, não tem funcionário olhando, é o espaço dele. 70% das nossas vendas hoje vêm de canais digitais. Não é pouca coisa.
Qual é o crescimento previsto para este ano?
Este ano vamos crescer em mais ou menos 50 restaurantes, o mesmo número do ano passado. O Brasil tem espaço para crescer. A localização de onde colocar restaurante é muito estratégica. Por exemplo, São Paulo é uma cidade onde tem espaço para crescer.
E onde vão estar essas 50 novas lojas?
Onde tem mais oportunidades é no Sudeste, São Paulo, Rio de Janeiro, e no Sul do país. Norte e Nordeste vamos ter também, mas a concentração maior é na região Sudeste.
No digital, outras novidades além do totem?
Nós estamos trabalhando, vendo oportunidades, desenhando, sempre junto com o cliente. Lançamos em novembro do ano passado nosso programa de loyalty e até junho tínhamos 8 milhões de usuários, um número bastante grande pelo período e que ainda vai evoluir muito mais. Tem um espaço enorme dentro da plataforma.
E em termos de cardápio, como está evoluindo? Existe uma tendência de health food no mundo todo e no Brasil também. Isso já levou a uma diversificação, com a introdução de saladas nos cardápios. Para onde está indo o cardápio agora?
Bom, primeira coisa que é muito importante e desmistificar. Os produtos que a gente vende no McDonald’s são os mesmos produtos que a gente encontra na geladeira da nossa casa. É o pão que você compra no supermercado, a carne é da Marfrig, a alface, a gente recebe todos os dias pela Martin Brauer, que é o nosso provedor logístico, e a cada dois dias estão entregando nos restaurantes, são produtos frescos. O que temos hoje é super saudável, super de qualidade. Atendemos 2 milhões de clientes por dia.
E em relação ao cardápio, alguma mudança prevista?
Nós temos salada e temos os lançamentos que a gente tem feito. Ingredientes de qualidade geram produtos de qualidade. Não importa qual é o produto, seja na salada ou seja num sanduíche, é um sanduíche saudável que você pode comer. O que eu sempre falo é o balanceamento, se comer alface todo dia, você também vai ter um problema. Se você souber balancear, não tem nenhum problema você comer o Big Mac, sabendo que é um produto de extrema qualidade.
E falando sobre a força de trabalho, a maior parte dos funcionários das lojas é muito jovem, tem essa característica de primeiro emprego. Nesse momento em que está bem difícil contratar, com o desemprego baixo, qual é a estratégia para contratar, formar, reter?
A gente ainda é a porta de entrada para muitos jovens. Está mais difícil contratar sim, mas o que a gente oferece é muito mais do que simplesmente um emprego. É uma formação, uma preparação para o mercado de trabalho. Além de ensinar a fazer hambúrguer, oferecemos uma formação de atendimento ao cliente, liderança, trabalho de equipe. Essa é a forma que a gente utiliza para contratar. As pessoas saem dessa jornada preparadas para o mercado de trabalho. Uma parte continuou com a gente para seguir carreira. É uma formação contínua. A palavra treinamento é algo que está no nosso DNA, é parte da nossa cultura.
A porta de entrada para a liderança média é sempre na base? Ou também contratam no mercado?
Contratamos também. Mais de 90% dos gerentes de unidade começaram como atendente, mas existe um pessoal que a gente contrata de fora, justamente para tentar fazer uma mescla. Já o staff do escritório tem uma mistura, gente que vem de outras empresas, de outros mercados.
Vocês têm alguma política de cotas raciais ou de outras minorias?
Não, é um processo natural. Por lei, você tem os PCDs, e nós temos uma contratação inclusive acima do previsto em lei. Mas não existe uma meta. Estamos abertos para contratar e trazer quem queira trabalhar com a gente, que será bem-vindo.
Este ano serão 50 novas lojas. Qual é o plano para os próximos anos?
Não posso falar o número, mas digo que nós vamos aproveitar todas as oportunidades de crescimento. O Brasil é um mercado promissor, está entre os dez maiores do mundo. Dentro de Arcos Dourados, o Brasil é o mercado mais importante, o maior e o que mais vai crescer proporcionalmente em relação aos demais países da América Latina. Das 2.200 lojas da América Latina, 1.150 estão no Brasil, um pouco mais da metade. Temos uma das melhores operações do mundo, referência para muitos países. As pessoas vêm aqui para conhecer um pouco a nossa operação, a forma de atendimento, os avanços digitais.
Quais são as iniciativas que os outros países vêm olhar?
Vou dar alguns exemplos. Quando a gente abre um restaurante McDonald’s, existem 25 protocolos, como luz LED, temperatura, teto protegido para usar menos ar-condicionado. O Brasil foi além. Abrimos um restaurante na Avenida Paulista que tem 60 protocolos. Por exemplo, o lixo orgânico tem usina de compostagem dentro do restaurante, então não tem recolhimento de lixo. O lixo é compostado, vira adubo e esse adubo vai para uma horta no próprio restaurante e os produtos que saem dessa horta são doados para a comunidade, assim como uma parte desse adubo.
Criamos uma lixeira com uma telinha que explica a importância da separação do lixo entre orgânico e reciclável e lugares onde a pessoa encaixa cada embalagem. O que sobra é matéria orgânica que vai para outra lixeira. Parece simples, mas com isso a gente consegue fazer a separação total. A madeira é toda certificada, vários locais do restaurante foram feitos com garrafa PET, temos reaproveitamento da água do ar-condicionado.
Nós também monitoramos as fazendas que fornecem carne para o nosso fornecedor, via satélite. Se existe algum sinal de desmatamento, a gente consegue detectar, vai uma auditoria na fazenda e se ficar confirmado, essa fazenda deixa de fornecer para o McDonald’s. Não tem gado do bioma amazônico. Nós controlamos 99,9% das fazendas por satélite. Da fazenda à bandeja do cliente, a gente acompanha todo o processo.
Por: Denize Bacoccina